Vamos Falar Sobre Saúde Mental No Trabalho?
Trabalhar duro por algo que não nos conecta se chama estresse. - Simon Sinek
As organizações vêm se preparando, cada dia mais, para discutirem
sobre o tema Doenças Psicossociais, que são chamadas de “mal do século”. Estas
empresas sabem que o cuidado com a
saúde mental dos seus colaboradores pode prevenir danos individuais e
coletivos, e assim, muitas destas mesmas empresas investem e também garantem a
efetividade e o cumprimento de políticas que valorizam seus funcionários.
Trabalhadores
em situação de saúde vulnerável podem gerar fortes impactos no mercado de trabalho
e na economia como um todo. Assim, muitas empresas estão buscando meios
de ouvirem o que afligem seus colaboradores, porém, existem outras empresas que
ignoram o problema na prática, elas sabem que podem substituir estes
profissionais. No entanto, isso não impede que os próximos colaboradores desenvolvam
os mesmos problemas.
Vamos
falar sobre estresse, depressão e ansiedade no trabalho?
Em seu artigo, "Prevalência dos transtornos mentais na população adulta brasileira: uma revisão sistemática de 1997 a 2009",Élem Guimarães dos Santos eMarluce Miguel de Siqueira apresentaram dados epidemiológicos entre o período de 1997 a 2009, os quais revelam a prevalência de transtornos mentais comuns (transtornos de ansiedade, depressão, somatoformes e neuroses) no Brasil, os quais variou entre 20 e 56% da população adulta, acometendo principalmente mulheres e trabalhadores como professores, trabalhadores rurais, enfermeiros, agentes comunitários de saúde, motoristas e cobradores.
Segundo algumas pesquisas, os transtornos mentais e comportamentais no Brasil estão entre as três maiores causas de incapacidade para o trabalho no país entre 2012 e
2016, perdendo apenas para lesões, envenenamento e outras consequências de
causas externas e para doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo,
correspondendo a 9% da concessão de auxílio-doença e aposentadoria por
invalidez.
Algumas comorbidades associadas como diabetes, doenças cardiovasculares, dentre outras, são as maiores causadoras da elevação na prevalência de transtornos mentais em razão da sobrecarga do trabalho. Pode ocorrer também que o estresse e o desgaste causados pelo trabalho, induza o trabalhador a desenvolver hábitos capazes de desencadear essas doenças. E tanto um, quanto o outro, podem levar a uma redução da qualidade de vida do trabalhador, comprometendo seu desempenho global, envolvendo sua vida familiar, ocupacional, emocional e social.
Outros fatores que contribui para o agravamento do adoecimento mental do trabalhador são as situações que banalizam a violência no local de trabalho, como assédios moral, sexual e psicológico. Estes, muitas vezes, encontram-se enraizados nas instituições, ocorrendo de maneira sutil, mas impactando no trabalhador. Alguns ambientes profissionais são mais propensos ao estresse, costumam incitarem a competitividade, a pressão por produtividade, relações verticalizadas que abrangem autoritarismo e a desvalorização das subjetividades dos trabalhadores.
O Ministério da Fazenda (BRASIL, 2017) orienta atenção aos itens listados abaixo, os quais são fatores capazes de prejudicar a saúde mental dos trabalhadores nas organizações:
- Exigências contraditórias e falta de clareza na definição das funções.
- Falta de participação na tomada de decisões que afetam o trabalhador e falta de controle sobre a forma como executa o trabalho.
- Má gestão de mudanças organizacionais e insegurança laboral.
- Comunicação ineficaz e falta de apoio da parte de chefias e colegas.
- Assédio psicológico ou assédio sexual e violência de terceiros.
No site da Fiocruz, em uma publicação da Nathállia Gameiro, esta fala sobre uma pesquisa realizada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e publicada pela revista The Lancet, onde é exposto que os casos de depressão aumentaram 90% e o número de pessoas que relataram sintomas como crise de ansiedade e estresse agudo mais que dobrou entre os meses de março e abril de 2020. A pandemia do Covid-19 trouxe uma mudança muito significativa na rotina do trabalhador, tanto na sua vida pessoal, quanto na sua vida profissional, causando impactos também na sua saúde mental.
O artigo
publicado por Natália S Ribeiro e GLEBE PRETTI expõe que
durante a pandemia, constatou-se que as vendas de remédios da classe
dos ansiolíticos, hipnóticos, estabilizadores de humor e antidepressivos,
aumentaram em 80%. Esse é um número que só reafirma o que a OMS (Organização
Mundial da Saúde) já havia alertado, o Brasil é o país mais ansioso do mundo,
com cerca de 18,6 milhões de ansiosos (9,8% da população).
Eles explicam que nem todos os casos de
estresse, depressão e ansiedade começam no trabalho, no entanto, o trabalho
ocupa cerca de 33% do tempo útil de uma pessoa, em muitos casos as pessoas
passam mais tempo trabalhando do que com suas próprias famílias. Também é
notado que o local de trabalho, ou o exercício do trabalho, são extremamente
estressantes por diversos motivos, alguns deles são a ultra-produtividade, a
cobrança excessiva, o assédio moral, a pressão para bater metas, a
competitividade no meio de trabalho, etc.
E de acordo com a diretora da Fiocruz Brasília, a psicóloga, Fabiana Damásio, os problemas de saúde mental no trabalho estão ligados a três pilares: tempo, espaço e condições. Para ela, ao analisar o tempo, percebe-se uma ausência de limites entre trabalho e vida pessoal e o entrecruzamento do trabalho com as atividades domésticas. Damásio explica que as questões das desigualdades sociais eclodem neste momento quando nos deparamos com a pandemia, em que os espaços físicos foram transferidos para redes comunicacionais como mídias sociais, plataformas virtuais e tecnologias para garantir que essas redes permaneçam.
Ainda de acordo com Damásio, o terceiro pilar é a
condição de trabalho remoto que tem sido um grande desafio, assim como a
retomada das atividades presenciais e a garantia da convivência segura. Ela
destaca que é preciso estar atento à regulação social do trabalho, pois pode
causar interferências nas redes colaborativas que se formam como caminho de
proteção social e funcionam como redes de apoio e contribuem para estratégias
dos problemas de saúde mental que surgem
Estudos mostram que o aumento do absenteísmo, atraso e intenções dos trabalhadores em abandonar seus empregos estão associadas as condições de trabalho estressantes. E uma organização saudável é definida como aquela que tem baixas taxas de adoecimento, lesão e incapacidade em sua força de trabalho e também é competitiva no mercado. Uma pesquisa do NIOSH identificou características organizacionais associadas tanto ao trabalho saudável, ao baixo estresse quanto aos altos níveis de produtividade.
Exemplos dessas características incluem
o seguinte:
- Reconhecimento
dos funcionários pelo bom desempenho no trabalho.
- Oportunidades
para desenvolvimento de carreira.
- Uma cultura
organizacional que valoriza o trabalhador individual.
- Ações de
gestão que são consistentes com valores organizacionais.
Já ouviu
falar em Síndrome de burnout?
A síndrome burnout passou a existir oficialmente em 2022, quando entrou em vigor a 11a edição da Classificação Internacional de Doenças (CID), que agregou o burnout como problema associado ao emprego ou desemprego. E muito se questiona, se a elevação dos casos de doenças ocupacionais não poderiam estar relacionada à intensificação das exigências na execução das funções exercidas pelo trabalhador. A atenção à saúde do trabalhador tem se tornado palco de discussões nos últimos anos, consolidando que a saúde mental do trabalhador influencia na sua saúde física e social, o que pode comprometer seu desempenho no trabalho.
De
acordo com Izabela Vieira, em seu artigo, “Conceito(s) de burnout: questões
atuais da pesquisa e a contribuição da clínica” de 2010, o termo burnout
começou a ser utilizado na década de 70, pelo psicólogo norte-americano
Herbert Freudenberger, o qual passou a investigar os efeitos do trabalho na
saúde mental. Em sua essência, burnout significa “combustão” e, por esse
motivo, é utilizado para representar um estado de esgotamento e estresse
excessivo e crônico, além de frustração, provocados pela sobrecarga ou excesso
de trabalho.
Uma matéria que saiu na Revista Exame mostra que não há um consenso sobre a definição de burnout. Numa tradução livre, o termo quer dizer “queimar até o fim”, estando relacionado a uma estafa física e mental por excesso de trabalho. Para Mario Louzã, psiquiatra e professor na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, o burnout é formado por um tripé. “É um casamento entre características da personalidade, situação de vida da pessoa e condições de trabalho, sendo este último o principal fator”.
Hugo Ferrari Cardoso e Isabela Vieira, falam que as
mudanças tecnológicas que favoreceram diferentes maneiras de otimizar o
processo de produção das empresas/instituições também expuseram os
trabalhadores a diferentes cargas no âmbito físico e emocional, as quais têm
repercutido negativamente na sua saúde. A literatura científica aponta que o
trabalho pode representar um misto de sentimentos envolvendo satisfação e
realização, ou insatisfação.
No relatório da American Psychological Association divulgado em janeiro deste ano, o burnout está em alta em todas as profissões. 79% dos funcionários entrevistados experimentaram estresse relacionado ao trabalho no mês anterior à pesquisa, e quase 3 em cada 5 trabalhadores relataram impactos negativos do estresse ligado à profissão, incluindo falta de interesse, de motivação ou de energia para trabalhar. 36% relataram cansaço cognitivo, 32% exaustão emocional e 44% disseram sentir fadiga física, o que representa um aumento de 38% desde 2019.
Como prevenir as doenças psicossociais
no trabalho?
A promoção da saúde mental no trabalho depende da qualidade de vida que o trabalhador apresenta. É preciso que todos na empresa se sensibilizem sobre a importância da promoção de um ambiente de trabalho saudável. Quando a empresa decide promover uma mudança cultural, ela tem que envolver a alta liderança nos debates e nas ações. Ela precisa também desenvolver o ambiente corporativo, principalmente por se tratar de doenças psicossociais, visto que, a exposição das doenças do trabalho também está atrelada às diferenças geracionais.
Nos Estados Unidos, segundo um estudo da consultoria Deloitte, 84% da geração millennial (nascidos entre 1980 e 1995) diz ter experimentado a exaustão no trabalho atual, em comparação com 77% de todos os entrevistados. Quase metade dos millennials diz que deixou um emprego porque se sentiu esgotada.
Segue abaixo algumas ações que pode ser útil para aqueles que buscam reduzir casos de doença mental no trabalho:
- Certifique-se de que a carga de
trabalho está em consonância com as capacidades e recursos dos trabalhadores.
- Projetar
trabalhos para fornecer significado, estímulo e oportunidades para os
trabalhadores usarem suas habilidades.
- Definir
claramente os papéis e responsabilidades dos trabalhadores.
- Dar aos
trabalhadores oportunidades de participar de decisões e ações que afetam
seus empregos.
- Horários de trabalho compatíveis com demandas e responsabilidades fora do trabalho.
- Compensação justa e adequada, condizente com as atividades exercidas pelo trabalhador.
- Condições de trabalho que favoreçam bem-estar e saúde e reduzam o risco de doenças ou acidentes.
- Uso e desenvolvimento de capacidades, com oportunidades que o trabalhador tem para empregar seus conhecimentos.
- Oportunidades de crescimento e segurança, com estratégias de crescimento na carreira.
- Melhorar a incerteza de redução de comunicações sobre o desenvolvimento da carreira e perspectivas futuras de emprego.
- Integração social na organização, com a igualdade entre os trabalhadores.
- Constitucionalismo, visando garantir o respeito aos direitos dos trabalhadores.
- A existência de um equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.
- Relevância social da vida no trabalho, melhorando a percepção do trabalhador sobre o local de trabalho.
“Muitos rios calmos nascem como cachoeiras turbulentas, mas nenhum espuma ou se arremessa por todo caminho até o mar.” — Mikhail Lermontov
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Cleide Vieira - Administradora, Gestora de Projetos/Gestão de Pessoas, Liderança e Coaching. Criou o blog para apresentar temas sobre gestão, negócios, pessoas, recursos e histórias.
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