Vamos Falar Sobre a "Sociedade do Cansaço" - O Desafio da Produtividade Sustentável?
A Armadilha do Desempenho: Quando a Busca por Crescimento se Transforma em Exaustão!
Vivemos em uma era marcada pela exaltação do desempenho. A todo instante, somos incentivados a evoluir, crescer, produzir, melhorar. Em um primeiro olhar, essa busca incessante por autossuperação parece positiva, afinal, quem não quer se tornar uma melhor versão de si mesmo?
No entanto, o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, em sua obra “Sociedade do Cansaço” (2010), nos convida a refletir sobre os efeitos colaterais dessa lógica que domina o mundo contemporâneo. Segundo Han, saímos de uma sociedade disciplinar que impunha limites e regras externas para uma sociedade de desempenho, onde os indivíduos se tornam seus próprios algozes.
A liberdade prometida pela modernidade, que deveria ser libertadora, transforma-se em um imperativo de autossuperação constante. Onde o lema “Yes, we can”, popularizado por Barack Obama, deixa de ser motivacional para se tornar uma sentença. A pessoa se torna, ao mesmo tempo, senhor e escravo de si mesma.
No universo corporativo contemporâneo, o discurso da superação pessoal, da produtividade ininterrupta e da “melhoria contínua” é amplamente celebrado. O profissional ideal é aquele que entrega mais, que se atualiza fora do expediente, responde e-mails à noite e que encara o esgotamento como parte natural da carreira.
Nessa lógica, a pressão não vem apenas da empresa: ela é internalizada. O profissional sente que deve sempre fazer mais, ser mais, entregar mais. E essa autoexploração, disfarçada de autonomia, produz um cansaço profundo, físico, emocional e mental.
A sociedade de desempenho promove uma hiperatividade constante, em que a ação se torna um fim em si mesma. É preciso estar sempre em movimento, engajado, produzindo, atualizando-se. No entanto, essa espiral de atividade tem um custo alto: a perda da capacidade de contemplação, de reflexão, de pausa e, com isso, da criatividade genuína e da saúde emocional.
O crescimento profissional, nesse contexto, torna-se um objetivo sem fim. Cursos, metas, certificações, networking, entregas... tudo isso pode ser positivo, é claro, desde que não seja movido por uma exigência interna implacável. Caso contrário, transforma-se em fonte de sofrimento silencioso.
Nesse cenário, o fracasso deixa de ser analisado como algo estrutural. Resultado, por exemplo, de falhas de liderança, processos mal definidos ou sobrecarga sistêmica e passa a ser visto como um fracasso pessoal. A mensagem é sutil, mas clara: se você não atingiu a meta, é porque não se esforçou o suficiente. E isso gera o que Han chama de “violência neuronal” um esgotamento invisível, mas devastador.
Vende-se a ideia de que todos podem tudo, desde que trabalhem mais, durmam menos, estudem sempre, rendam o tempo todo. Mas o que não se diz é que essa lógica ignora os limites humanos, físicos, emocionais e existenciais. Nessa corrida sem linha de chegada, não há espaço para descanso verdadeiro, para o ócio criativo ou para o fracasso honesto.
Han alerta que essa pressão constante gera uma epidemia de distúrbios psíquicos: burnout, ansiedade, depressão, síndrome do pânico. Sintomas de uma sociedade adoecida pela produtividade, onde o cansaço virou norma e o silêncio, um luxo.
Essa reflexão é urgente. Precisamos repensar nossas prioridades. Substituir a obsessão por resultados, pela busca de sentido. E de compreender que crescer também pode significar parar, respirar e simplesmente ser, sem metas, sem métricas, sem pressões.
É preciso também repensar esse modelo dentro das organizações. Criar culturas mais humanas, onde o desempenho não seja sinônimo de sacrifício, e onde limites e pausas sejam reconhecidos como parte do processo produtivo e não como falhas. Profissionais saudáveis são mais criativos, mais colaborativos e mais sustentáveis ao longo do tempo. Isso, sim, é produtividade inteligente.
A crítica de Byung-Chul Han não é um ataque ao trabalho, nem ao mercado, é um convite à lucidez. Uma oportunidade de recuperar nossa humanidade em meio ao ruído de um mundo que exige tudo, o tempo todo.
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